Arthur
Ferreira
Jr.'.
I
UM
GRANDE
ESTRONDO
cortou
o
ar,
e
os
policiais
na
base
do
morro
viram
uma
das
maiores
casas
da
comunidade
de
Colinas
da
Noite
se
despedaçar
e
vários
dos
destroços
rolarem
abaixo.
Ao
contrário
da
maioria
dos
casebres
e
muquifos
com
laje
batida,
aquela
casa
era
o
símbolo
de
poder
de
um
dos
traficantes
do
morro,
e
o
Tenente
Miguel
Dantas
sabia
muito
bem
disso.
Só
que
nenhum
dos
seus
era
responsável
por
aquilo,
ninguém
sequer
havia
subido,
fora
o
fato
de
que
ninguém
seria
louco
de
estourar
uma
granada
(como
parecia
ter
sido
o
caso)
no
covil
de
um
dos
maiores
traficantes
da
região.
Era
mais
jogo
saquear
a
casa,
conseguir
algumas
provas,
acobertar
outras,
readquirir
algumas
das
armas
do
tráfico
e
ficar
com
algumas
delas
para
revenda.
O
tenente
ficou
cerca
de
um
minuto
olhando
a
fumaça
que
se
dissipava
lá
em
cima,
até
que
num
movimento
brusco,
comandou
seus
homens
ao
ataque.
Os
policiais
invadiram
a
favela,
e
ruela
após
ruela,
pensaram
que
iam
trocar
tiros
com
os
traficantes,
mas
a
entrada
foi
surpreendentemente
fácil,
sem
maiores
obstáculos.
Algumas
pessoas,
dentro
das
casas,
berravam
desesperadas,
e
era
até
compreensível,
mas
alguns
dos
gritos
tinham
um
tom
de
desespero
ao
qual
nenhum
dos
homens
da
polícia
estava
realmente
acostumado.
Aquela
noite
estava
especialmente
quente,
em
vários
sentidos.
Três
gotas
de
suor
desceram
rápidas
pela
fronte
do
Tenente
Miguel,
e
reagindo
a
seus
sinais
ágeis,
os
policiais
entraram
no
que
restava
do
casarão.
A
casa
contrastava
com
a
miséria
de
suas
vizinhas,
e
era
como
se
a
destruição
em
seu
interior
e
nas
paredes
externas
viesse
para
exercer
uma
justiça
cruel
e
poética:
uma
ruína
entre
vidas
arruinadas.
Nos
arredores,
só
a
Igreja
da
Libertação
de
Deus
destoava
tanto
do
ambiente.
Dentro,
uma
carnificina.
A
coisa
era
pior
do
que
Dantas
pensava.
Não
só
a
casa
estava
semidestruída
por
explosivos
plásticos
colocados
em
dois
pontos
nas
paredes,
o
que
evidenciava
um
trabalho
interno,
como
todos
os
capangas
do
dono
do
morro
estavam
mortos.
Alguns
podiam
ter
sido
atingidos
pelos
estilhaços
preparados
que
faziam
parte
da
engenhosa
bomba,
e
pelo
impacto
da
explosão
em
si,
mas
uns
três
haviam
sido
estripados
de
modo
selvagem.
E
numa
sala
deixada
intacta,
estava
o
corpo
seminu
do
dono,
exibindo
a
garganta
dilacerada,
o
sangue
manchando
os
lençóis
caros.
Mais
tarde,
a
perícia
achou
vários
traços
de
esperma
e
fluidos
vaginais
por
esses
lençóis...
mas
nenhuma
mulher
estava
entre
os
mortos.
Nenhum
cabelo
de
mulher
pelo
quarto,
também;
mas
haviam
pelos
de
algum
animal
que
a
perícia
ainda
está
tentando
identificar,
alguns
deles
estranhamente
longos,
do
comprimento
do
cabelo
longo
de
uma
mulher.
Outra
circunstância
esquisita
era
a
das
drogas
e
armas
espalhadas
pela
casa.
Embora
não
pudesse
dizer
exatamente
isso
quanto
às
armas,
mas
a
grande
quantidade
de
drogas
estocada
significava
que
algum
carregamento
fora
deslocado
para
a
casa
do
dono,
no
mínimo
um
dia
antes.
Ninguém
havia
levado
nada.
Talvez
fosse
obra
de
algum
justiceiro...
mas
o
Tenente
Miguel
achava
improvável,
mesmo
um
sujeito
assim
levaria
as
drogas
e
armas,
ou
pelo
menos
as
armas.
Miguel
falou
no
celular,
pedindo
que
a
inteligência
checasse,
nos
relatos
dos
informantes,
se
o
dono
tinha
uma
namorada
e
os
detalhes
sobre
ela.
Enquanto
esperava
a
resposta,
uma
coisa
chamou
a
atenção
do
tenente.
Havia
crack,
cocaína,
maconha,
ecstasy
e
até
LSD
estocados
naquela
casa,
uma
variedade
inusitada,
e perto
da
janela,
havia
uma
pequena
pílula.
Largada
pelo
chão,
avermelhada.
O
policial
se
abaixou,
e
com
uma
luva
ergueu
a
pílula
daquela
preciosidade.
Era
de
se
esperar
que
houvesse
pelo
menos
algumas
daquelas
pílulas
ali,
junto
a
tanta
variedade
de
outras
drogas,
mas
aquela
era
a
única
deixada
para
trás.
BK-14... Belknapius.
Os
viciados
e
a
gente
das
ruas
da
cidade
de
Novo
Portal
a
chama
de
GARRA.
O
Tenente
Miguel
a
balançou
entre
os
dedos,
o
vermelho
da
pílula
brilhou
à
luz
das
lanternas,
e
um
uivo
se
fez
ouvir
lá
fora...
II
O
BURBURINHO
VAI
AUMENTANDO
NA
IGREJA,
conforme
eu
vou
me
espremendo
pela
multidão.
Muita
gente
vestida
de
terno
e
gravata,
saias
compridas,
roupas
de
mangas
e
golas
mais
envergonhadas,
até
mesmo
crianças
vestidas
desse
modo,
presas
em
sua
ânsia
de
brincar
naquele
lugar
sagrado.
Já
era
meu
costume
usar
gravata
no
dia
a
dia,
apesar
de
ninguém
jamais
me
ver
assim
durante
a
noite
– a
noite
genuína,
quero
dizer,
não
essa
que
se
sente
lá
fora,
no
sereno
úmido
e
na
lua
redonda.
Súbito,
o
alvoroço
da
multidão
cessa,
e
ouço
retumbar
nos
alto-falantes
uma
bateção
nervosa
feita
com
os
dedos,
aquele
praxe
para
checar
o
áudio
e
ao
mesmo
tempo
avisar
aos
devotos
que
o
pastor
começará
seu
sermão.
E
aquela
voz.
Vibrante,
impetuosa,
quase
furiosa:
“IRMÃOS!”
E
nesse
momento,
eu
sei,
com
toda
certeza
e
verdade:
estou
na
Igreja
da
Libertação
de
Deus.
O
pastor
começa
a
vociferar
aleluias
e
prometer
dádivas
divinas
aos
fiéis,
castigo
aos
impuros
e,
mais
importante,
a
libertação
aos
aflitos.
Contrariando
o
que
eu
em
parte
esperava
– já
havia
estado
em
algumas
igrejas
evangélicas,
embora,
ao
entrar
ali,
eu
já
soubesse
que
não
se
tratava
exatamente
uma
igreja
normal
de
crentes
– o
pregador
não
pediu
dízimos
nem
ofertas,
não
exaltou
a
necessidade
da
Igreja
de
ser
sustentada
pelos
frequentadores,
nem
ordenou
a
passagem
de
saquinho
de
doações,
nem
mesmo
usou
de
expedientes
visíveis
para
forçar
a
culpa
na
garganta
dos
presentes,
que
poderiam
se
sentir
mal
se
não
contribuíssem.
Se
eu
esperasse
um
local
normal
de
pregação,
estranharia
também
a
falta
de
culpa
nas
noções
do
pastor,
já
que,
embora
eles
raramente
falem
essa
palavra
(lidar
com
a
palavra
culpa
é
algo
largado
mais
na
mão
dos
católicos,
acho),
a
culpa
seja
algo
de
que
a
maioria
desses
cristãos
buscam
se
livrar
– mas
que
sempre
os
perseguem.
O
pastor
não
falou
de
culpa,
nem
pediu
dinheiro.
Não
fez
nada
disso,
e
pareceu
aproveitar
o
tempo
que
essa
omissão
lhe
dava
para
exemplificar
a
libertação
dos
angustiados:
chamou
a
primeira
pessoa
a
ser
liberta.
VAMOS
RETORNAR
ALGUNS
MESES.
Minha
filha
ainda
estava
viva.
Cátia
era
uma
garota
esperta,
cheia
de
vida,
como
canta
o
clichê.
Uma
moça
que
eu
gostava
de
acreditar
ser
inocente
(não
no
sentido
de
virgindade,
mas
sim
de
pureza
de
caráter,
de
ideias),
de
andar
nos
trilhos
da
normalidade.
Algo
lá
no
fundo
me
alertava
que
essa
e
outras
crenças
que
eu
mantinha
não
passavam
de
ilusões.
Como
sempre,
não
prestei
a
atenção
a
essa
sensação,
até
que
fosse
muito
tarde.
Catuxa
(era
o
apelido
que
minha
mulher
lhe
dera)
começou
a
sair
muito
à
noite,
e
voltava
estranha,
seu
comportamento
alterado.
Discutia
com
a
mãe,
me
xingava,
e
depois
se
trancava
no
quarto.
Eu
e
minha
esposa
discutimos
sobre
a
possibilidade
da
menina
estar
consumindo
drogas.
Pois
bem,
estávamos
certos,
mas
aquilo
era
só
a
ponta
do
iceberg,
estávamos
apenas...
arranhando
a
carne
da
verdade.
FUI
ARRANCADO
DO
DEVANEIO
pelo
berro
da
moça
no
tablado
onde
o
pastor
se
movimentava,
microfone
em
punho.
Ela
chorava,
dizia
sentir
algo
dentro
de
si
que
a
atormentava
dia
e
noite,
queixava-se
de
dores,
calafrios,
e
culpava
o
diabo.
O
pastor
a
agarrou
pelos
braços,
deu
cinco
sacudidelas
bem
fortes,
gritando
nomes
estrambóticos,
que
meses
atrás
me
pareceriam
ridículos.
Eram
palavras
arrastadas,
diria
mesmo
guturais,
mais
surpreendentes
e
assustadoras
que
o
costumeiro
espetáculo
do
religioso
manifestando
o
pretenso
dom
de
línguas.
Nada
daquilo
parecia
forjado
– pelo
contrário,
a
sensação
de
verdade,
de
autenticidade,
permeava
o
ambiente.
Não
havia
nada
de
hipócrita
no
comportamento
do
pastor,
e
eu
tinha
total
certeza
disso.
Nos
últimos
tempos,
eu
desenvolvera
um
bom
juízo
de
caráter,
estando
completamente
certo
de
que
aquele
homem
– chamava-se
Pastor
Neemias
– acreditava
piamente
em
tudo
que
fazia.
Mesmo
um
tanto
chocado
com
a
violência
do
ritual
e
com
as
vociferações
de
Neemias,
o
estranho
era
que
eu
simpatizava
com
ele.
Mas
não
com
a
moça
escorrendo
baba
e
convulsionando
diante
do
pastor;
ela
merecia
morrer.
A MOÇA
SE
PARECIA
MUITO
com
minha
filha
Cátia.
Olhos
amendoados,
grandes,
pele
bronzeada,
cabelos
lisos
de
índia,
os
contornos
jovens
de
seu
corpo
tornados
evidentes
pela
roupa
um
tanto
apertada.
Minha
filha,
tão
esperta
e
cheia
de
vida.
Minha
filha,
escorrendo
baba
e
convulsionando
diante
de
mim,
há
cinco
meses
atrás.
Eu
não
sabia
bem
o
que
fazer.
Era
uma
overdose.
Ela
não
chegara
em
casa
muito
bem,
trocando
pernas,
dizendo
que
enxergava
coisas
pela
casa,
reclamava
do
cheiro
forte
do
lixo
que
ainda
não
fora
trocado…
trancou-se
no
quarto
depois
de
um
breve
escândalo,
coisa
a
que
já
estávamos
acostumados.
O
que
não
estávamos
acostumados
era
ao
silêncio
que
se
formou
na
casa,
com
ela
dentro
do
quarto:
normalmente,
ela
colocaria
o
som
a
altos
brados,
ou
então
resmungaria
coisas
estranhas
que
eram
ouvidas
no
corredor.
Forcei
a
porta,
agoniado,
e
lá
estava
ela,
num
estado
muito
parecido
com
o
da
moça
sendo
curada
pelo
pastor…
O
PASTOR
SACUDIA
OS
BRAÇOS
da
moça,
e
num
momento
julguei
enxergar
que
as
unhas
do
pastor
haviam
se
tornado
garras
afiadas,
e
rasgado
a
carne
da
menina
convulsa.
Mas
essa
impressão
não
durou
menos
de
quatro
segundos;
talvez
tenha
mesmo
acontecido.
A
moça
praticamente
desmaiou
e
foi
retirada
do
palanque
por
um
assistente.
Quando
passou
perto
de
mim,
carregada,
eu
enxerguei
uma
marca
– praticamente
um
desenho
– um
arranhão
profundo
em
seu
braço,
e
ao
vê-lo
a
sensação
de
que
a
moça
deveria
morrer
aumentou.
Essas
ideias
estranhas,
esses
impulsos
mórbidos
e
imperativos,
me
perseguiram
nos
últimos
meses.
Não
sei
mais
o
que
fazer,
e
vim
aqui
na
igreja
buscar
alívio.
Será
que
vim
ao
lugar
certo?
CÁTIA
ESTAVA
INTERNADA
num
hospital,
recuperando-se
da
overdose
da
qual
sobreviveu.
Foi
nessa
época
que
ouvi
falar
pela
primeira
vez
da
Igreja
da
Libertação
de
Deus,
pela
boca
de
uma
prima.
Ela
falava
dos
milagres
realizados
pelos
Pastores
Simão
e
Neemias,
que
traziam
alívio
a
endemoniados
e
viciados.
E
haviam
vários
viciados
em Colinas da Noite, a comunidade perto de Mirantes do Grotão onde
ficava
a
sede
da
igreja.
Os
pastores
chegaram
até
a
atrair
a
atenção
dos
traficantes
da
região,
mas
depois
de
uma
conversa
a
sós
– assim
corria
o
boato
– o
“dono”
do
morro
deixou
de
interferir
com
a
Igreja.
Talvez
tenha
notado
que
essas
“curas”
não
afetavam
seu
comércio;
na
verdade,
um
número
cada
vez
maior
de
consumidores
surgia,
e
as
curas
também
aumentavam.
Essa
última
opinião,
cheirando
a
teoria
da
conspiração,
emitida
pelo
sogro
de
meu
vizinho,
não
era
ouvida
nem
considerada
pelos
simpatizantes
e
defensores
da
Igreja
da
Libertação.
Meu
vizinho
mesmo
dizia
que,
no
mínimo,
a
Igreja
deveria
ter
algum
valor
ou
caráter,
porque
não
via
as
explorações
que
enxergava
em
outras
igrejas
do
mesmo
gênero.
O
sogro,
seu
Raimundo,
argumentava
que
nem
toda
igreja
evangélica
explorava,
que
a
Igreja
da
Libertação
de
Deus
nem
mesmo
era
evangélica
de
verdade,
e
que
achava
que
as
pessoas
que
iam
lá
sofriam
uma
lavagem
cerebral.
Só
essa
palavrinha
desmoronava
todo
o
crédito
que
eu
poderia
dar
a
seu
Raimundo.
Todos
caíam
na
gargalhada,
na
rodinha
de
cerveja
em
frente
ao
botequim
onde
eu
me
reunia
com
os
amigos,
e
a
coisa
ficava
por
aí,
seu
Raimundo
envergonhado
e
seu
genro
acabava
balançando
a
cabeça
numa
ironia
muda,
virava
mais
um
copo
e
todos
o
imitavam,
e
o
assunto
mudava
para
outro
qualquer.
Eu
estava
frequentando
demais
aquele
botequim,
porque
o
problema
de
minha
filha
me
angustiava
sobremaneira.
Os
amigos
já
evitavam
tocar
nessa
questão,
e
pouco
a
pouco
eu
já
ia
lá
sem
os
amigos
– afogava
as
mágoas
na
cachaça,
sozinho,
em
plena
madrugada,
quando
a
insônia
e
os
pensamentos
recorrentes
não
me
deixavam
dormir.
Uma
culpa,
principalmente,
não
me
deixava
dormir.
Aquilo
só
podia
ser
culpa
minha,
porque
minha
mulher
era
tão
cuidadosa,
e
eu,
tão
distraído.
Eu
deveria
ter
sido
o
pulso
firme
dentro
da
casa,
ser
mais
homem,
mais
pai
de
família,
enfim.
Eu
estava
com
quarenta
e
um
anos,
mas
me
sentia
uma
criança
diante
daquilo
tudo,
isso
sim.
Queria
me
livrar
da
culpa;
me
libertar.
III
O
PASTOR
NEEMIAS
SE
RETIROU
do
palanque
e
era
a
vez
do
Pastor
Simão
falar.
A
voz
de
Simão
era
bem
mais
suave,
mais
melíflua,
quase
tentadora.
O
pastor
se
enchia
de
piedade
pelos
escravos
do
mundo,
dizia.
Satanás
tinha
este
mundo
preso
em
suas
garras,
repetia
pela
terceira
vez.
“Irmão,”
continuava
o
pastor
de
traços
magros
e
tez
pálida,
olhos
muito
vívidos
mirando
a
congregação,
“sim,
estou
falando
com
você
que
veio
hoje
pela
primeira
vez.
Não
sei
quem
você
é,
mas
não
está
mais
sozinho.
Porque
o
diabo
– o
diabo…
– o
diabo
o
tinha
em
suas
garras
e
o
afastava
do
caminho
certo,
mas
você
conseguiu
fugir
dele.
Está
aqui
agora
como
os
outros
pintinhos,
aninhados
pelas
asas
da
galinha,
salmo
91,
versículo
4.
Ficai
conosco,
irmão!
Essa
angústia
que
sentires
a
será
exterminada
pela
espada
do
anjo
vingador!”
Quando
se
empolgava,
Pastor
Simão
misturava
os
tempos
verbais
e
as
citações
bíblicas,
mas
ninguém
ali
estava
ligando
para
isso
– só
a
possibilidade,
o
aceno
da
libertação
importava.
Na
verdade,
ninguém
se
importava
com
a
espada
do
anjo
vingador,
por
mais
próxima
que
ela
na
verdade
estivesse…
O
que
eles
queriam
era
o
êxtase,
a
glória
do
Senhor,
e
isso,
ou
algum
sucedâneo
ainda
mais
viciante
que
o
sentido
em
outras
igrejas,
era
o
que
Simão
ia
lhes
dar.
Depois
de
algum
tempo
falando,
e
se
enrolando,
Pastor
Simão
começava
a
jorrar
bênçãos
sobre
a
assistência,
falando
em
línguas
sussurrantes,
quase
orientais
e
pseudo-semíticas,
um
sussurro
híbrido,
tão
alto
que
era
ouvido
de
um
canto
a
outro
da
igreja.
Eu
não
me
refiro
só
à
amplificação
do
alto-falante.
Havia
algo
naqueles
sibilos
que
preenchia
a
sala,
hipnotizava,
e
as
pessoas
começavam
a
também
gritar
em
línguas,
dançar
frenéticas,
rodopiar,
pôr
as
mãos
nas
cabeças
umas
das
outras,
em
nome
do
Senhor…
a
princípio
não
parecia
nada
muito
diferente
do
que
eu
poderia
presenciar
em
outros
lugares
assim,
mas
se
numa
outra
ocasião
eu
ria
daquilo
tudo,
agora
me
sentia
tocado.
A
glória
me
invadia,
e
queria
expulsar
a
angústia
em
meu
coração.
Não
era
só
isso
que
era
diferente
de
outras
igrejas
– enquanto
eu
dançava
ritmado
em
meio
ao
povo,
vi
várias
pessoas
se
beijando
compulsivamente,
e
pessoas
que
eu
pensava
que
eram
estranhas
umas
às
outras.
Outras
pessoas
não
eram
tão
estranhas
assim
– logo
percebi,
quando
vi
duas
irmãs
se
beijando
num
abraço
nada
fraterno.
Mas
era
a
glória
de
Deus,
a
libertação
de
Deus.
Nada
de
culpa,
nada
que
me
faria
lembrar
de
minha
filha…
oh,
não,
mas
uma
das
duas
irmãs
se
parecia
tanto
que
aquela
amiga
de
Cátia
que
me
procurou
um
dia…
CHAMAVA-SE
VANESSA.
Lábios
finos,
um
sorriso
tímido,
cabelos
cacheados
e
castanhos,
pálida,
baixinha
e
de
óculos,
mas
muito
graciosa.
Atenciosa.
Depois
de
um
tempo
ela
largou
os
óculos
e
passou
a
usar
lentes
de
contato
de
cores
estranhas.
Às
vezes
essas
lentes
brilhavam
no
escuro,
era
o
que
eu
percebia
quando
ela
vinha
pedir
notícias
de
minha
filha,
vinda
da
rua
em
sua
iluminação
defeituosa.
Parecia
estar
se
vestindo
do
mesmo
jeito
que
minha
filha,
mas
seu
comportamento
não
era
tão
preocupante.
Eu
me
incomodava
mais
com
essas
vindas
quase
à
meia-noite,
o
bairro
estava
se
tornando
perigoso
naquelas
noites,
talvez
fosse
a
proximidade
da
favela...
mas
por
outro
lado,
aqueles
assassinatos
que
apareciam
nos
noticiários
não
pareciam
coisa
dos
traficantes.
Os
especialistas
do Correio de Novo Portal
diziam
ser
latrocínios
perpetrados
por
alguma
gangue,
e
não
queima
de
arquivo
ou
coisa
do
tipo.
A
última
vez
que
vi
Vanessa
não
havia
muito
escuro
lá
fora,
porque
a
lua
estava
bem
cheia
no
céu.
Dava
para
enxergar
um
halo
bem
forte
ao
redor
do
satélite,
suas
cores
estavam
quase
psicodélicas,
quando
as
formas
e
o
rosto
da
menina
ficaram
visíveis
diante
da
janela
do
segundo
andar
– eu
estava
arrumando
meu
armário
e
quase
tomei
um
susto
quando
ouvi
o
“psiu”
da
amiga
de
minha
filha.
“Vanessa!
Que
diabo
é
que
está
fazendo
aí
na
árvore?”
“Tio,”
falou
a
mocinha
a
coisa
de
um
metro
de
distância,
“o
senhor
precisa
me
ajudar.
Deixa
eu
entrar,
escancara
a
janela
pra
mim.”
Minha
mulher
tinha
saído
naquela
noite,
visitando
uma
amiga.
Foi
uma
coisa
que
de
imediato
me
causou
vergonha,
mas
estar
daquele
jeito
com
uma
jovem
assim,
ainda
mais
amiga
da
minha
filha,
me
excitou
um
pouco.
Abri
a
janela.
O
que
se
seguiu
foi
estranho.
Ela
pulou
da
árvore
para
dentro
do
quarto
e
caiu
perfeitamente
em
pé,
a
cinco
centímetros
de
mim;
seus
olhos
brilhavam
e
aquela
minha
excitação
que
havia
sido
tingida
de
vergonha,
se
converteu
em
medo
do
desconhecido…
até
que
percebi
que
os
olhos
brilhavam
pela
incidência
da
luz
da
lua
sobre
suas
lágrimas:
ela
estivera
chorando!
“Tio,
ela
está
morrendo…
e
eu
não
pude
fazer
nada
pra
evitar!”
Desesperada
(assim
parecia),
me
abraçou
com
força.
Não
tive
jeito
de
reagir
ou
de
a
recusar.
A
pele
dela
era
quente,
o
abraço,
forte.
Mais
forte
do
que
deveria
ser
o
abraço
de
uma
menina
daquele
tamanho.
E
ela
parecia
tão
cheia
de
vida…
a
minha
excitação
voltou,
superando
a
pena
e
a
confusão.
E
ela
reagiu,
rápida,
à
minha
excitação.
Já
estava
agarrando
meu
torso,
o
apertou
com
mais
força
e
me
beijou
na
boca.
Sua
saliva
era
quente
e
de
um
gosto
bem
mais
forte
do
que
qualquer
boca
que
já
beijei;
sua
carne,
deliciosa
ao
toque
e
seu
cheiro
de
mulher,
que
ficava
mais
forte,
avassalador.
Eu
poderia
me
perder
naquelas
sensações.
Mas
algo
me
ocorreu
e
segurei-lhe
os
braços,
impedindo
que
aquilo
continuasse:
“Que
é
isso?
E
quem
está
morrendo,
Vanessa?”
“Cátia.
Me
perdoe…
eu...
eu
fiz
besteira
..”
mas
balançou
a
cabeça
como
se
estivesse
dizendo
bobagens,
e
consertou:
“quer
dizer,
eu
acho
que
ela
está
muito
mal,
eu
sonhei
com
isso.”
“Não
quer
dizer
nada.
Ela
está
no
hospital,
e
bem.
Senão
eu
teria
sido
avisado.
E,
Vanessa…”
“Mas
eu
não
suporto.
E
será
que
fiz
errado
em
passar
aqui?
Preciso
de
apoio.
E
também,
não
consigo
me
concentrar
com…”
interrompeu
o
próprio
discurso
de
novo.
“Me
traz
um
copo
d'água?
Não
tou
muito
bem.”
Assenti,
meio
aliviado
de
ter
alguns
instantes
para
avaliar
a
situação,
enquanto
descia
para
pegar
a
água.
“Traga
dois
copos!”
gritou
ela
do
quarto
enquanto
eu
descia
as
escadas.
Peguei
logo
uma
jarra
e
subi
de
volta,
rápido;
nem
consegui,
também,
me
concentrar
no
que
estava
de
fato
acontecendo.
Era
como
se
eu
fosse
um
hiperativo.
“Minha
família
é
espírita,”
ela
foi
explicando
assim
que
entrei
de
volta
no
quarto,
“e
eles
dizem
que
beber
água
fluidificada
faz
bem
quando
a
gente
está
assim,
abalada.
Então
vamos
nos
concentrar
um
pouquinho,
eu
não
quero
rezar,
nem
sei
rezar
direito,
mas dizem
que
a
água
se
energiza
e
se
bebemos,
faz
bem,
acalma,
sei
lá.”
Achava
aquilo
uma
tolice,
mas
concordei
por
talvez
poder
acalmá-la.
Por
outro
lado,
a
situação
era
meio…
broxante,
para
usar
a
palavra
exata.
Eu
havia
estado
extremamente
excitado
poucos
minutos
atrás
e
agora
ia
“fluidificar”
água
junto
com
aquela
garota.
Ficamos
um
tempo
parados,
sentados
no
chão
do
quarto,
a
luz
da
lua
caindo
sobre
o
aposento
mergulhado
em
penumbra.
Até
fechei
os
olhos,
entrando
na
onda
dela,
para
melhor
me
“concentrar”.
Logo
depois
que
fiz
isso,
ela
disse,
“Vamos
beber,
então.”
Tomei
a
bebida
a
goles
sôfregos,
queria
acabar
logo
com
aquilo.
Ela
também
bebeu
o
copo
dela
bem
rápido,
e
não
contou
conversa,
me
agarrando
de
novo.
Ela
não
saiba
o
que
queria,
afinal
de
contas!
Nos
abraçamos
e
ela
ficou
por
cima
de
mim,
ávida,
feroz.
Acabamos
tirando
a
roupa
e
começamos
a
fazer
sexo
ali
mesmo,
no
chão.
Parecia
tudo
muito
bem
(eu
havia
esquecido
completamente
a
existência
de
minha
mulher
e
de
minha
filha
hospitalada),
o
cheiro
dela
invadia
todo
o
quarto,
era
como
se
fosse
uma
nuvem
invisível
me
afetando,
me
atiçando…
até
que
ela
começou
a
se
empolgar
demais.
Os
dois
sentados
um
diante
do
outro,
as
pernas
em
tesoura
na
penetração,
ela
arranhava
minhas
costas
com
uma
força
além
de
qualquer
outra
mulher
que
havia
me
arranhado
antes.
Era
dolorido
e
as
unhas
pareciam
mais
garras
que
outra
coisa.
Além
disso,
eu
estava
começando
a
me
sentir
esquisito:
me
mexia
dentro
dela
com
uma
velocidade
anormal,
como
se
fosse
um
animal
selvagem,
e
minha
vista
começava
a…
borbulhar
na
minha
frente,
distorcendo
o
que
eu
enxergava.
Os
cheiros
começavam
a
ficar
mais
fortes,
além
do
cheiro
dela,
eu
sentia
o
cheiro
de
madeira
da
chuva
da
tarde,
que
havia
subido
pelas
casas
há
várias
horas;
o
cheiro
do
perfume
de
minha
mulher,
que
estava
bem
longe
dela,
mas
ficou
parada
pondo
perfume
na
porta
do
meu
quarto,
enquanto
conversava
comigo,
umas
duas
horas
antes;
o
cheiro
de
comida
vindo
da
geladeira
fechada.
O
cheiro
da
luz
da
lua
entrando
no
quarto.
O
cheiro
de
minha
mente
estalando,
o
cheiro
da
fome
de
Vanessa.
Ela
me
derrubou
no
chão,
grunhindo:
“Sente
o
sangue
ferver?
Sente
tudo
mais
forte?
MAIS
VIVO?”
Suas
formas
pareciam
animalescas,
diante
de
mim.
O
que
eu
enxergava
era
uma
mulher
e
um
bicho
ao
mesmo
tempo,
sua
vagina
era
quente
e
apertada,
apertava
demais,
ela
tinha
escamas
por
todo
o
corpo
e
seus
olhos
brilhavam
com
uma
luz
muito
amarela,
vívida.
A
língua
(parecia
bífida)
vibrava
para
fora
da
boca,
que
se
escancarava
ao
gritar,
gemer,
num
ângulo
impossível
para
uma
mandíbula
humana;
como
se
ela
fosse
uma
cobra
prestes
a
engolir
um
touro.
E
eu
me
sentia
sendo
engolido.
Logo,
isso
se
provou
literal.
Ela
avançou
sobre
meu
ombro,
me
segurando
com
toda
força,
e
eu
não
conseguia
reagir,
ainda
preso
sob
ela
e
entre
suas
pernas.
Me
sentia
como
se
estivesse
drogado.
E
ela
me
mordeu
o
ombro;
não
só
mordeu,
mastigou
e
arrancou
pedaços
do
meu
ombro.
Senti-me
devorado
vivo
e
desfaleci
de
dor,
não
sem
antes
as
alucinações
piorarem
e
eu
enxergar
Vanessa
tornando-se
uma
serpente
gigante,
enroscando-se
em
volta
de
meu
corpo,
me
estrangulando…
Acordei
no
chão,
com
uma
dor
de
cabeça
incrível.
Já
era
de
manhã
e
a
luz
do
sol
entrava,
iluminando
tudo
de
modo
tênue.
A
porta
do
quarto
estava
fechada
e
dava
para
enxergar
a
chave
virada
nela,
deixando-a
trancada.
Droga,
a
minha
mulher…
onde
será
que
ela
havia
dormido?
Com
a
cabeça
rodando,
examinei
meu
corpo
e
vi
que
havia,
sim,
uma
marca
no
ombro
– mas
podia
ser
muito
bem
uma
marca
de
uma
queda,
eu
poderia
ter
caído
da
cama…
parecia
uma
mordida,
e
ao
mesmo
tempo
não
parecia.
O
ferimento
ardia
e
eu
sentia
quase
como
se
ele
estivesse
se
fechando.
ME
PEGUEI
BEIJANDO
A
MOÇA
que
parecia
Vanessa.
Bom,
agora
eu
não
tinha
satisfações
para
dar
à
minha
mulher:
ela
havia
me
deixado,
depois
da
morte
de
Cátia.
Sim,
porque
Cátia
havia,
sim,
morrido
no
hospital
naquela
mesma
noite;
e
minha
esposa
havia
esmurrado
a
porta
do
nosso
quarto,
tentando
me
avisar,
mas
eu
juro
que
não
ouvi
nada,
naquele
sonho
estranho
com
Vanessa.
O
salão
havia
se
convertido
em
uma
quase
orgia.
Ainda
bem
que
a
igreja
não
era
do
tipo
de
portas
abertas,
aceitando
os
fiéis
ou
curiosos
que
passam
pela
rua.
Não,
a
igreja
– aquela
filial
da
igreja
– ficava
num
antigo
cinema,
mas
a
assembleia
acontecia
mais
para
dentro,
na
sala
de
cinema
propriamente
dita.
Não
vi
cenas
de
sexo
propriamente
dito,
mas
era
tudo
como
uma
bacanália,
em
vez
de
simples
bacanal:
uma
celebração
dionisíaca,
vários
cantavam
hinos
em
meio
à
liberação.
Então,
de
maneira
quase
orquestrada,
simultânea,
todos
começaram
a
louvar
a
Deus
num
hino,
pulando
e
erguendo
os
braços.
O
pastor
Neemias
reapareceu
no
palco
e
voltou
a
bradar
em
línguas…
só
que,
desta
vez
– e
eu
já
estava
bastante
alto,
como
se
estivesse
alcoolizado,
e
olha
que
fazia
uns
dois
dias
que
não
bebia
– “entendi”
o
que
ele
gritava,
era
também
um
hino,
mais
ou
menos
assim
(aquelas
palavras
ficaram
gravadas
a
fogo
em
minha
mente,
pois era apenas em
minha
própria
mente
que
eu
as
compreendia):
Ave,
Senhor
Tsathoggua,
Pai
da
Noite!
Glória,
ó
Antigo,
Primogênito
da
Entidade
Exterior!
Salve,
Aquele
Que
Já
Era
Antigo
Além
do
Imemorável
Quando
as
Estrelas
Geraram
o
Grande
Cthulhu!
Todo
Poder
ao
Rastejante
Ancestral,
sobre
os
lugares
podres
de
Mu!
Iä!
Iä!
G'noth-ykagga-ha!
Iä,
Iä,
Tsathoggua!
Depois
que
pronunciou
aquelas
frases
(algumas
das
palavras
eram
percebidas
como
pura
insensatez,
como
esse
“Tsathoggua”),
os
fiéis
foram
se
dispersando
em
fileiras
mais
ou
menos
organizadas,
saindo
do
salão
de
assembleia
e
dirigindo-se
às
saídas;
mas
nem
todos.
Fiquei
meio
sem
jeito
com
tudo
aquilo
(sei
que
andava
mal
da
cabeça
e
do
coração,
nos
últimos
tempos,
porém aquilo
superava
muito,
em
estranheza,
o
que
eu
esperava)
e
já
ia
dando
mostras
de
também
ir
embora,
sem
chegar
a
falar
de
fato
com
ninguém,
quando
senti
uma
mão
no
meu
ombro.
Era
o
Pastor
Simão.
Ele
tinha
um
pouco
de
mau
hálito,
disfarçado
pelo
uso
de
balas
de
canela
(dava
para
perceber
com
nitidez).
“Você
parece
não
pertencer
ao
rebanho,
irmão”
disse
o
pastor.
“É
a
primeira
vez
que
venho
aqui,
e…”
Ele
riu.
“Não
era
disso
que
eu
estava
falando.”
Seus
olhos
brilhavam,
intensos,
meio
que
me
sondando.
Ficou
alguns
segundos
esperando
que
eu
disse
algo,
talvez,
e
completou:
“O
Pastor
Neemias
quer
falar
com
você.”
Como
assim?
Não
estava
entendendo
nada,
será
que
alguém
do
bar
falara
dos
problemas
com
esse
pastor?
Só
fiz
assentir
e
Neemias
fez
um
gesto
para
que
o
seguisse.
No
meio
do
caminho,
algumas
pessoas
desativavam
os
aparelhos
de
som,
enquanto
outras,
bem
menos
numerosas,
se
encaminhavam
para
a
parte
ainda
mais
interna
da
igreja.
E
foi
para
lá
que
nos
dirigimos.
Chegando
numa
sala
mais
ou
menos
ampla,
embora
bem
menor
que
o
salão,
cheia
de
cadeiras
e
(o
que
era
estranho
para
uma
igreja)
divãs,
ou
sofás
de
reclinar,
parecidos
com
aqueles
dos
filmes
romanos.
Havia
ali
também
uma
espécie
de
púlpito.
E,
recostado
sobre
ele,
de
jeito
quase
displicente,
o
Pastor
Neemias,
cofiando
a
barba
grisalha.
Era
um
homem
robusto,
apesar
da
idade
talvez
já
acima
da
casa
dos
cinquenta.
“De
onde
veio,
você,
irmão?”
perguntou
ele,
ríspido,
entrando
em
choque
com
a
simpatia
que
senti
por
ele,
que
viera
ali
quase
disposto
a
contar
tudo
dos
últimos
meses,
como
se
ali
fosse
um
confessionário
católico.
Da
morte
da
minha
filha,
dos
sonhos
estranhos,
das
ideias
despropositadas,
da
fim
do
meu
casamento,
do
sumiço
de
Vanessa.
Talvez
eu
viera
no
lugar
errado.
Talvez
não.
“Me
recomendaram
esta
igreja,
eu
ando
meio
angustiado,
e…”
“Corta
essa
conversa
de
crente.
Dá
pra
sentir
o
seu
cheiro,
você
achava
que
não?”
Despegou-se
do
púlpito
e
veio
avançando
na
minha
direção.
“Do
que
é
que
você
está
falando?”
Apreensivo,
olhei
para
os
lados:
eu,
os
dois
pastores
e
mais
umas
três
pessoas,
incluindo
aí
duas
mulheres.
Vestidos
do
jeito
padrão
para
um
grupo
de
crentes,
mas
com
uma
postura
corporal
totalmente
distinta.
Diabos,
um
deles
parecia
estar
mostrando
os
dentes
para
mim!
Aquilo,
mais
Neemias
se
aproximando
como
se
fosse
fazer
círculos
ao
meu
redor,
me
despertou
uma
espécie
de
reação
automática.
Minha
postura
ficou
um
pouco
mais
curvada,
os
membros,
tensos,
pronto
para
responder
com
violência,
se
fosse
necessário.
“Isso
aqui
é
nosso
território,”
sussurrou
estranhamente
aquele
que
se
dizia
Pastor
Simão.
“Não
acha
que
fez
mal
ir
entrando
sem
ter
avisado
antes?”
“Não
faço
ideia
do
que
estão
falando,
mesmo,”
repeti.
“Para
mim,
isto
aqui
era
apenas
uma
igreja…
normal.”
Esta
última
palavra
demorou
um
pouco
para
sair;
eu
mesmo
sabia
que
estava
mentindo,
nunca
ouvira
falar
da
Igreja
da
Libertação
de
Deus
como
igual
às
outras.
Apesar
de
nunca
ter
me
chegado
notícia
de
orgias,
antes.
A
cara
que
Neemias
fazia
era
de
raiva
e
confusão.
E
eu,
se
não
estava
totalmente
assustado,
estava
muito
apreensivo.
“Que
é
isso
de
território?”
perguntei,
dando
um
passo
em
direção
à
porta
por
onde
havia
entrado.
Mas
fui
impedido
de
me
movimentar
com
mais
liberdade,
porque
o
homem
que
mostrava
os
dentes
para
mim,
nos
cantos
da
sala,
avançou
também
e
cortou
minha
saída.
Talvez
tivesse
agido
contra
mim,
se
uma
das
mulheres
não
segurasse
seu
pulso,
vindo
rápida
na
direção
dele,
e
falasse
alto,
para
todos:
“Esperem!
Ele
pode
ser
um
apagado…
um
novato
que
não
sabe
o
que
é.
A
Garra
anda
provocando
muitos
desses,
ouvi
dizer.”
“Mas
o
cheiro
dele
é
diferente,”
interrompeu
Simão.
“Tem
alguma
coisa
diferente
nele,
é
como
se
fosse
um
licantropo
há
anos!”
Licantropo?
Aquela
palavra
estranha
me
deixou
mais
confuso,
onde
já
a
houvia
encontrado…?
“Não
importa”
falou
o
homem
de
dentes
expostos
– o
cheiro
dele
também
era
forte,
como
de
um
cachorro
que
não
tomava
banho;
olhando
também
para
a
mulher
que
havia
intercedido,
percebi
que
ela
tinha
um
cheiro
insinuante
e
forte,
e
que,
na
verdade,
a
linguagem
corporal
de
todos
eles
se
parecia
com
a
de
animais.
“Se
é
um
novato,
vai
ter
que
se
submeter
a
nós.”
Submeter?
Eu
começava
a
ficar
ainda
mais
nervoso.
“Calma,”
interveio
Neemias,
agora
um
pouco
menos
tenso.
“Vamos
lá,
irmão.
Faça
o
que
veio
fazer
aqui,
ou
o
que
disse
que
veio
fazer
aqui.
Conte
seus
problemas.”
Os
outros
relaxaram
um
pouco
a
postura
de
alarma,
era
como
se
Neemias
fosse
o
chefe
deles,
incondicional.
Então
desabafei,
contei
tudo
que
esperava
contar,
dos
sonhos,
da
minha
filha,
de
Vanessa
(esquisito
que
quando
mencionei
esse
nome
e
o
incidente,
alguns
deles
ergueram
as
sobrancelhas),
das
alucinações
… nesse
ponto,
perguntei,
“Quem
é
Tsathoggua?”
“Ah,
irmão!”
reagiu
Neemias.
“Então
você
é
digno
de
saber
a
verdade
do
nome
de
nossa
igreja.
É
um
duplo
sentido,
sabe…
a
Libertação
é
a
Libertação
de
Deus,
você
veio
aqui
se
libertar
do
próprio
Deus,
porque
o
Deus
que
aqui
cultuamos
não
é
esse
deus
fraco
que
se
faz
de
forte,
que
os
homens
conhecem
mal
e
que
procuram
por
medo;
veneramos
um
deus
como
nós.
Como
eu
e
você.
Ele
é
um
guia...
Tsathoggua.
Um
ser
amorfo,
divino,
como
você
e
eu.”
“Como
eu
e
você?!?”
“Sim,
mas
acho
que
uma
imagem
vale
mais
que
mil
palavras.
Chegue
aqui,
vamos
até
o
porão.
Vai
ter
que
confiar
em
mim,
e
sabe
que
não
tem
muita
escolha.
Mas
não
te
desejo
mal,
e
você
sabe
disso,
também.
Não
é?”
De
novo,
aquela
aura
de
simpatia
e
confiança,
mesmo
no
meio
de
estranhas
conversas
e
algaravias
em
línguas
desconhecidas.
IV
DESCEMOS
AS
ESCADAS
SUJAS
que
se
escondiam
atrás
de
uma
porta
discreta.
Eu
ia
ao
lado
de
Neemias,
enquanto
Simão
e
os
outros
(que
disseram
se
chamar
Teodoro,
Liziane
e
Marluce)
vinham
logo
atrás.
Por
um
instante
pensei
que
ia
encontrar
um
tipo
de
calabouço
iluminado
por
tochas,
ou
então
um
local
ritualizado,
cheio
de
velas,
mas
não
era
nada
disso;
no
caminho
alguém
apertou
uma
tecla
e
luzes
fluorescentes
encheram
o
pavimento
inferior.
Foi
então,
ainda
no
alto
da
escada,
que
eu
a
vi.
Aquela
coisa.
O
cheiro
dela
era
ainda
mais
forte
que
o
dos
outros,
extremamente
familiar
e
ao
mesmo
tempo
surpreendente.
Uma
mulher
(via-se
pelo
contorno
dos
seios,
de
bicos
muito
pontudos,
e
pelos
quadris
arredondados)
coberta
de
escamas
muito
grossas,
negras…
e
a
cabeça
era
totalmente
ofídica,
com
um
capelo
de
naja,
no
lugar
dos
cabelos.
Ela
estava
nua,
acorrentada
a
uma
das
paredes
daquele…
deveria
chamar
de
dormitório?
Estava
cheio
de
camas
de
campanha.
Ao
nos
ver,
o
monstro
começou
a
se
debater
e
berrar.
“A
porta
lá
em
cima
está
bem
fechada?”
perguntou
Simão
a
uma
das
mulheres,
que
assentiu
afirmativa.
“O…
o
que
é
isso?
Será
que
estou
sonhando,
de
novo?”
Neemias
foi
me
empurrando
pelas
escadas
e
falou,
na
voz
uma
seriedade
forçada
contrastando
com
o
rosto
alegre
e
excitado:
“Não
a
reconhece?
É
ela.
Aquela
que
matou
sua
filha.”
“Matou
minha
filha,
como
assim?
Minha
filha
morreu
de
infecção
hospitalar!”
“Não
exatamente.
Sua
filha
só
estava
naquelas
condições,
para
começar,
por
causa
de…
Vanessa.”
Aquela
era
Vanessa?
Percebi
então
como
aquele
ser
se
parecia
com
as
formas
do
corpo
da
moça
que
eu
só
havia
visto
nua
uma
vez,
em
sonho;
e
que
parecia
não
muito
sonho,
agora;
e
foi
então
que
me
lembrei
de
como
o
sonho
terminou…
“Nós
sabíamos
da
sua
história,
indiretamente,”
falou
Simão,
mais
uma
vez
num
sussurro,
mais
um
sibilo
agora,
“por
ela,
que
era
parte
do
nosso bando.
Agora
está
aí,
de
castigo.
Foi
ela
que
apresentou
a
droga
Garra
para
sua
filha;
foi
ela
que
tentou
reanimar
sua
filha
no
hospital,
e
falhou;
foi
ela
que,
depois
de
falhar,
foi
se
consolar
contigo,
e
acabou
fazendo
de
você…
um
aperitivo.
Já
fez
isso
antes,
matou
um
tal
Caio,
o
melhor
amigo
dela…
Mas
ela
não
imaginava
que
ao…
temperar
você,
acabasse
te
despertando.”
“Bando?
Tempero?”
Então,
me
veio
o
choque.
Ela
havia
me
drogado,
posto
algo
na
água,
enquanto
eu
me
concentrava,
naquela
noite
terrível.
“Mas
porque
ela
fez
isso???”
perguntei
desesperado.
“Porque
ela
gosta
do
tempero
da
droga
na
carne
humana…
a
GARRA
que
desperta
ALGO
naqueles
destinados,
a
Garra
na
carne
humana…
coisa
que
você
também
vai
aprender
a
gostar,”
respondeu
exultante
Neemias,
me
segurando
pelo
braço,
“porque
você
é
um
de
nós!”
A
coisa
serpentina
diante
de
nós
começou
a
se
debater
quando
Neemias
se
transformou,
seu
agarrão
no
meu
braço
tornando-se
cinco
garras
me
prendendo
com
força.
Era
um
monstro
peludo,
que
ao
crescer
rasgou
o
paletó
de
Neemias,
postura
curvada
e
cabeça
como
a
de
um
gigantesco
chacal
ou
lobo.
“ENTÃO,”
grunhiu
Neemias,
“JÁ
SABE
AGORA
O
QUE
VOCÊ
É?”
Os
sonhos.
Os
sonhos
que
eu
havia
tido
naqueles
últimos
meses,
me
vieram
como
um
baque
sobre
a
cabeça.
A
vontade
de
matar
era
genuína,
porque
eu
era
um
monstro.
Não
sabia
se
tinha
mesmo
estripado
inocentes
daquela
forma
que
me
lembrava,
nos
sonhos,
mas
era
tudo
vividamente
real.
Eu
corria
pelas
ruas
da
cidade,
livre,
caçava
e
matava
e
devorava.
Os
outros
assumiam
formas
animalescas
menos
evidentes,
mas
mesmo
assim
assustadoras:
Simão
exibia
escamas
de
um
mosqueado
verde-amarelado,
e
olhos
tão
serpentinos
quanto
o
de
Vanessa
acorrentada;
Teodoro
tinha
os
braços
muito
peludos
e
dentes
muito
afiados,
e
estava
barbado
como
não
era
poucos
minutos
antes;
Marluce
exibia
olhos
azuis,
de
um
azul
que
não
era
humano,
e
garras
como
as
de
um
gato;
enquanto
Liziane
era
de
todos
a
mais
assustadora,
com
a
pele
viscosa
e
repugnante,
coberta
de
ventosas,
os
braços
flexíveis
como
tentáculos.
E
o
mais
estranho,
para
mim,
era
que
eu
sentia
muito
medo,
mas
o
medo
não
me
dominava.
Era
como
se
eu
já
estivesse
acostumado
com
aquilo
– e
com
todas
aquelas
metamorfoses,
eu
seria
o
único
humano
ali
no
porão…
se
não
fosse
a
reação
que
me
possuiu:
minha
pele
coçava
como
se
estivesse
alérgica
a
alguma
coisa
no
ar,
e
aquilo
piorou
chegando
a
arder,
a
queimar;
o
tempo
parecia
parar
enquanto
aqueles
animais
me
rodeavam
e
eu
me
aproximava
da
acorrentada,
presa
a
grilhões
de
cor
muito
prateada.
Então
vieram
as
alucinações
– os
cheiros
muito
mais
fortes,
a
umidade
do
ar
parecia
mais
espessa,
e
se
mexer,
reagindo
aos
movimentos
do
bando
de
monstros;
haviam
zumbidos,
silvos
e
estalos
por
toda
parte;
um
ruído
surdo
preenchia
minha
cabeça…
e
naquele
instante
interminável,
vi
a
luminescência,
aquele
halo
hediondo
e
psicodélico
que
havia
enxergado
na
lua,
na
noite
em
que
Vanessa
me
havia
visitado.
O
halo
envolvia
as
correntes
de
prata
que
prendiam
a
moça,
monstro,
parente,
fêmea,
consorte,
estranha
e
familiar,
favorita
e
odiada,
prostituta
e
santa,
deusa
monstro.
E
eu
sabia
que
as
devia
tocar:
para
tocar
na
pele
da
minha
deusa
e
amante,
devia
estraçalhar
os
grilhões…
era
a
mensagem
que
me
vinha
à
mente,
tão
verdadeira
quanto
o
cântico
em
línguas,
declamado
por
Neemias.
“É
A
SUA
CHANCE,
“bradou
Neemias,
“PODE
SE
VINGAR
DELA,
VOU
TER
O
MAIOR
PRAZER
DE
ASSISTIR,
É
UMA
PUTA
TRAIDORA.”
“BANDO…
PORRA
NENHUMA!!!”
Num
só
movimento,
agarrei
as
correntes
de
prata
e
as
puxei,
quebrando
o
pino
que
as
prendia
na
parede,
e
sacudi
aquele
excesso
de
grilhões
sobre
o
rosto
– não,
o
focinho
– de
Neemias.
Meus
músculos
pulsavam
com
uma
sensação
de
poder
nunca
antes
sentida,
e
punir
o
pastor
só
aumentava
o
prazer
daquela
sensação
de
poder.
Eu
não
tinha
mais
nada
a
perder
na
vida,
a
não
ser
Vanessa.
“Como
assim
ele
é
imune
à
prata???”
gritou
apavorada,
aquela
coisa
cheia
de
ventosas
e
tentáculos.
Tinha
muita
razão
para
estar
assustada;
eu
mesmo
me
aterrorizava
ao
perceber
que
minha
pele
era
agora
um
couro
espesso,
cheio
de
escamas
e
espinhos,
rasgando
minha
camisa.
Os
três
mais
fracos
estavam
como
que
paralisados
frente
à
cena.
A
prata,
me
veio
a
ideia
no
fundo
da
mente.
Estilhacei
o
anel
do
braço
direito
de
Vanessa,
lhe
dando
mais
liberdade
de
ação
e
a
libertando,
também,
da
dor
da
prata.
Enquanto
eu
vibrava
novamente
o
emaranhado
de
correntes
na
pele
do
lobisomem
– sim,
era
isto
que
ele
era,
sem
a
menor
dúvida,
agora
– dei
tempo
suficiente
para
que
Vanessa
superasse,
um
esforço
tremendo,
a
dor
e
quebrasse
o
anel
de
prata
do
outro
pulso.
Coisa
que
nunca
mais
conseguirá
repetir
na
vida.
A
cabeça
animalesca
de
Neemias
estava
banhada
de
sangue
e
suas
feridas
eram
graves.
Ele
ainda
tentou
me
atingir
com
suas
garras,
mas
consegui
me
esquivar
da
maioria
dos
golpes
e
só
um
deles
me
acertou
– e
o
ferimento
pouco
me
atrapalhou,
começando
a
sarar
quase
que
no
mesmo
instante.
Aproveitei
um
momento
em
que
Neemias
se
contorceu
de
dor,
e
o
instinto
de
fuga
assumiu:
empurrei
Vanessa
na
direção
da
escada,
e
corremos.
Eles
não
ousaram
nos
seguir,
os
três
devem
ter
tentado
cuidar
de
seu…
líder,
pastor,
o
que
seja.
E
que
o
tal
deus
amorfo
deles
se
fodesse.
Quando
ultrapassamos
a
porta
que
separava
o
porão
do
fundo
da
igreja
no
nível
térreo,
consegui
ouvir
a
voz
sussurrante
de
Simão,
“É
o
Dragão
de
Yig…
o
monstro
que
devora
a
lua...
estamos
acabados…”
Na
câmara
onde
haviam
aqueles
divãs
todos
se
encontrava
também
um
grande
espelho
na
parede,
como
numa
sala
de
dança
ou
ensaio
teatral.
E
eu
me
vi.
Um
monstro
reptiliano,
de
garras
malignas
empunhando
correntes
de
prata,
cheio
de
escamas
e
espinhos
da
cor
de
um
azul
quase
negro,
a
cabeça
deformada,
draconiana,
os
olhos
de
uma
cor
mortal
e
prateada.
As
formas
de
Vanessa
começaram
a
suavizar
e
seu
rosto
assumiu
as
feições
femininas
que
eu
conhecia,
“Rápido!
Não
temos
tempo
pra
ficar
se
olhando
no
espelho,
tio!”
Puxou
o
lençol
que
cobria
um
dos
sofás
e
cobriu
sua
nudez.
Minha
vontade
era
de
a
possuir
ali,
de
novo,
como
naquela
noite,
dessa
vez,
seria
tão
mais
pleno…
Os
olhos
de
Vanessa
se
estreitaram
e
percebi
a
serpente
nela
se
manifestando,
sibilando:
“NÃO.
AGORA
NÃO
É
O
MOMENTO.
Vamos
sair
daqui,”
sua
voz
foi
voltando
ao
normal.
Naquela
noite
corremos
pelas
ruas
como
dois
malucos
perdidos
num
labirinto,
depois
de
ter
quebrado
uma
janela
dos
fundos
da
igreja.
Em
um
certo
momento
paramos
e
ficamos
abraçados
como
se
fôssemos
dois
indigentes
na
noite
fria
e
enluarada,
marido
e
mulher,
suados
e
ofegantes,
ela
muito
pior
que
eu,
as
minhas
roupas
rasgadas
e
ela
envolta
num
cobertor.
Passou
um
anônimo
na
rua,
sentiu
pena,
meteu
a
mão
no
bolso
e
foi
tirando
umas
moedas,
dizendo,
“Tá
precisando
de
uma
pratinha
pra
alimentar
sua
esposa,
amigão?”
“Prata?”
respondi,
finalmente
rindo
depois
de
tanto
tempo,
assustando
o
transeunte.
“Não,
pode
deixar…
já
tenho
toda
a
prata
que
preciso...”
No
meu
sorriso
brilhava
a
luz
da
lua;
nos
meus
olhos
prateados,
a
certeza
da
libertação.
LIBERTAÇÃO
foi
escrito
em
fevereiro
de
2011
e
reescrita
em
julho
de
2012
para
a
coletânea
SIMETRIA
MACABRA:
CRÔNICAS
DO
MYTHOS
DE
CTHULHU.
O
conto
original,
além
de
reescrito,
foi
adicionado
a
outra
história
mais
curta,
“Escombros
e
Uivos,”
como
a
primeira
parte
das
quatro
em
que
o
conto
final
foi
dividido.
O cântico em itálico é da autoria de
HP Lovecraft, homenageando Tsathoggua, criação de Clark Ashton
Smith.